Mais um carnaval passou e já estamos na Quaresma. Quaresma lembra sacrifícios, renúncias, jejuns, sofrimento e, principalmente, aceitação da doutrina oficial das religiões cristãs. Quando falo em aceitação, sem questionamentos, quero deixar claro que essa não é uma condição somente das religiões cristãs, mas de todas as grandes religiões. Cada uma delas sustenta suas preconizadas verdades baseando-se em seus livros sagrados. Temos a Tora judaica, a Bíblia cristã e o Alcorão islâmico como principais representantes das religiões ocidentais. Cada um desses livros, considerados sagrados, ou fruto de revelação divina, teve, no correr dos tempos, as mais diversas e bizarras interpretações. No oriente também temos exemplos de livros sagrados, os Vedas, que foram usados para manter o status de uma sociedade dividida em castas, o destino das pessoas vinha determinado de berço, sem chances de mudanças na vida presente.
Quem leu o primeiro parágrafo talvez esteja se questionando, querendo entender onde pretendo chegar. Qualquer pessoa que analisar nossa história perceberá que em nome das religiões cometeram-se atrocidades contra nossos irmãos. O terrível nessa análise é percebermos que, quase sempre, calamos quando o assunto envolve religião. Triste é percebermos que essa cultura do sofrimento continua viva e, para muitos, é considerada como a única forma de salvação.
O tema é extremamente atual. O monsenhor polonês Slawomir Oder, em livro lançado na Itália, com o título “Por que um Santo?”, revelou que o Papa João Paulo II se autoflagelava. Segundo o monsenhor, o Papa possuía um cinto com o qual se açoitava quando estava só e costumava dormir no chão, para penitenciar-se e assim, através do sofrimento corporal, se aproximar do martírio de Cristo. Tal prática é também conhecida como ascese, uma forma radical de expurgar pecados. Difícil é entender como alguém com a bagagem cultural de João Paulo II ainda se submetia a práticas, diria medievais, sendo ele representante de Deus aqui na Terra, segundo as crenças católicas, obviamente. Que Deus é esse, pergunto eu, que se compraz com o sofrimento dos seus filhos? Por que essa fuga do prazer praticada por tantas religiões e culturas?
Em pleno século 21, vários países da África e da Ásia, ainda praticam a Mutilação Genital Feminina, também conhecida como Excisão ou Circuncisão Feminina, que consiste na remoção do clitóris e dos lábios vaginais das meninas, a partir dos cinco anos de idade, e tem como objetivo único evitar que tenham, quando adultas, qualquer prazer sexual. Numa conferência realizada no Cairo, Egito, estimou-se que 120 milhões de crianças e mulheres africanas já foram submetidas à circuncisão, ou seja, à mutilação genital.
Qual a relação entre o cinto do Papa e a mutilação genital feminina? Creio que ambas as situações são fruto da nossa cultura sempre tão pronta a valorizar o sofrimento ao invés do prazer. Quem não conhece o provérbio “muito riso, pouco siso”? Pois ele é reflexo de uma época em que até rir era pecado. Temos atualmente, em nosso pequeno e sofrido planeta os dois extremos convivendo. De um lado, a busca desenfreada do prazer, a qualquer custo, e por outro lado ainda presenciamos práticas primitivas, que creio eu, não ajudam em nada no crescimento do que temos de mais belo ao cultivarmos o potencial amoroso e de compaixão possíveis. Precisamos rever os tabus que nos impedem de questionar alguns assuntos por se tratarem de temas religiosos.
Quem leu o primeiro parágrafo talvez esteja se questionando, querendo entender onde pretendo chegar. Qualquer pessoa que analisar nossa história perceberá que em nome das religiões cometeram-se atrocidades contra nossos irmãos. O terrível nessa análise é percebermos que, quase sempre, calamos quando o assunto envolve religião. Triste é percebermos que essa cultura do sofrimento continua viva e, para muitos, é considerada como a única forma de salvação.
O tema é extremamente atual. O monsenhor polonês Slawomir Oder, em livro lançado na Itália, com o título “Por que um Santo?”, revelou que o Papa João Paulo II se autoflagelava. Segundo o monsenhor, o Papa possuía um cinto com o qual se açoitava quando estava só e costumava dormir no chão, para penitenciar-se e assim, através do sofrimento corporal, se aproximar do martírio de Cristo. Tal prática é também conhecida como ascese, uma forma radical de expurgar pecados. Difícil é entender como alguém com a bagagem cultural de João Paulo II ainda se submetia a práticas, diria medievais, sendo ele representante de Deus aqui na Terra, segundo as crenças católicas, obviamente. Que Deus é esse, pergunto eu, que se compraz com o sofrimento dos seus filhos? Por que essa fuga do prazer praticada por tantas religiões e culturas?
Em pleno século 21, vários países da África e da Ásia, ainda praticam a Mutilação Genital Feminina, também conhecida como Excisão ou Circuncisão Feminina, que consiste na remoção do clitóris e dos lábios vaginais das meninas, a partir dos cinco anos de idade, e tem como objetivo único evitar que tenham, quando adultas, qualquer prazer sexual. Numa conferência realizada no Cairo, Egito, estimou-se que 120 milhões de crianças e mulheres africanas já foram submetidas à circuncisão, ou seja, à mutilação genital.
Qual a relação entre o cinto do Papa e a mutilação genital feminina? Creio que ambas as situações são fruto da nossa cultura sempre tão pronta a valorizar o sofrimento ao invés do prazer. Quem não conhece o provérbio “muito riso, pouco siso”? Pois ele é reflexo de uma época em que até rir era pecado. Temos atualmente, em nosso pequeno e sofrido planeta os dois extremos convivendo. De um lado, a busca desenfreada do prazer, a qualquer custo, e por outro lado ainda presenciamos práticas primitivas, que creio eu, não ajudam em nada no crescimento do que temos de mais belo ao cultivarmos o potencial amoroso e de compaixão possíveis. Precisamos rever os tabus que nos impedem de questionar alguns assuntos por se tratarem de temas religiosos.