quarta-feira, 24 de março de 2010

E NÓS CALAMOS... (FL.SCHROEDER 1ªQUINZ.MAR/10)

Após uma longa e cinzenta temporada de dias chuvosos, finalmente, amanheceu um dia ensolarado. Abri as janelas da casa, respirei o ar fresco que ainda trazia o cheiro de chuva, de umidade. É interessante como a luz levanta nosso astral. Banhada pelo dourado do sol a natureza toda parece em festa. Nesses momentos esquecemos toda a loucura que a vida nos força a encarar. Esquecemos, inclusive, que tudo o que conhecemos como expressão da vida, flutua sobre tão frágeis cascas, sobre um oceano de lava. Nos últimos meses vimos, nos noticiários, que parte do planeta está sofrendo com terremotos. Primeiro no Haiti, depois no Chile e agora na Turquia. A pergunta que me faço é por que, mesmo sabendo que essas regiões estão sujeitas a terremotos, ainda se constrói sem prever tais eventos, gerando com isso tantas perdas em vidas humanas e, obviamente, tanto sofrimento. Felizmente, nós brasileiros, não sofremos tais cataclismas, mas mesmo assim, criamos nossos próprios. Todos ainda lembramos das chuvas de 2008, dos desmoronamentos, das montanhas vindo abaixo, das tantas vidas e bens sacrificados. Percebo entretanto que não aprendemos nada, pois basta um olhar mais atento aos nossos morros, sim, os morros de Schroeder, Jaraguá e demais cidades próximas. Não precisamos ir longe, basta abrirmos nossas janelas e, com certeza, veremos a terra vermelha, como carne viva, aparecendo na forma de cortes nos morros. Em algum momento, próximo ou no futuro, a natureza tentará se acomodar e, mais uma vez sofreremos as consequências dos nossos atos.

Temos, aqui em Schroeder, dois ou três empresários, metidos no ramo imobiliário, um deles inclusive já passou por cargos públicos, que tratam a natureza como mercadoria. Tais empresários são como um câncer, ou melhor, como lepra, que, lentamente, se espalha sobre nossa paisagem. Nas minhas caminhadas e passeios percebo que desenvolveram uma forma muito sutil de desmatarem, sem qualquer licença ambiental, creio eu, pois começam a roçar por baixo e, de preferência, de forma não visível das ruas ou estradas, e quando nos damos conta já desmataram. Alguns ainda se dão ao trabalho de plantar palmeiras, palmeira real creio eu, caracterizando assim como atividade agrícola o que não passa de projeto imobiliário.

Lamento dispor do meu tempo para tais observações, pois gostaria de escrever sobre coisas mais positivas, mas creio que nós, todos nós, precisamos nos indignar com o que está acontecendo, pois amanhã pagaremos um preço muito alto pelo descaso atual. Vamos, pois, cobrar dos nossos políticos já que somos nós que pagamos os salários deles. Não podemos mais calar, pois calando estaremos sendo coniventes com a destruição ambiental que está ocorrendo. De nada adianta vestirmos camisetas pedindo a preservação dos micos-leões-dourados ou dos pandas, se não nos preocupamos em salvar as pererecas que habitam nossas florestas ou as saracuras dos nossos banhados. Temos atualmente tecnologia e maquinário suficiente para ocupar a terra de forma a preservar e respeitar as demais formas de vida. Não prego nenhuma volta ao passado, mas sim uma forma inteligente e harmônica de nos relacionarmos com o que nos cerca. A mesma Schroeder, com suas cachoeiras, sua figueira centenária, suas Duas Mamas e seus Bracinhos, se descuidarmos, se transformará em apenas mais uma cidade a ocupar as manchetes dos jornais em futuras e previsíveis tragédias ambientais. Já que nossos órgãos fiscalizadores não dispõem de pessoal para dar conta do recado nós, cidadãos, precisamos botar, literalmente, a boca no trombone. Não podemos mais calar.