Carros posicionados. Homens prontos para canhonear. Cavalos relincham nervosos, lançam jatos de vapor no ar gelado. Espadas desembainhadas emitem reflexos prateados. Silêncio total. Olhos fixos no horizonte procuram o inimigo invisível. Tambores mudos aguardam o sinal do ataque. O sol alto não aquece, apenas ilumina. O general cai do cavalo e acorda assustado. Debate-se entre os lençóis. Um filete de suor frio nas costas. Não está só. Ouve a respiração do corpo que dorme ao lado. Os passos das sentinelas no pátio do quartel o devolvem à realidade. Os números esverdeados do relógio marcam quatro horas. Falta uma hora para começar o dia. A cabeça está confusa. Há cães ladrando distantes, fora dos muros. A cabeça quase explode e lhe relembra várias garrafas de vinho. Na névoa das recordações um rosto quer se mostrar. Não tem coragem para encará-lo. Sente-se nu. Lutou mil batalhas, mas sente que perderá essa. Falta-lhe coragem para encarar o outro lado da cama. Desfilam em sua cabeça batalhões de soldados rasos. Seus filhos, suas crianças. Quer levantar e acender a luz. O corpo não obedece. O coração dispara descompassado. A mão tateia, procura. Quando toca na pele macia o coração tambor dá a última batida. Fim da batalha. Mergulha nas trevas iluminadas. Um soldado acorda assustado. Veste a farda e sai cabisbaixo do dormitório...
sábado, 3 de maio de 2008
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