sábado, 3 de maio de 2008

BATALHA

Carros posicionados. Homens prontos para canhonear. Cavalos relincham nervosos, lançam jatos de vapor no ar gelado. Espadas desembainhadas emitem reflexos prateados. Silêncio total. Olhos fixos no horizonte procuram o inimigo invisível. Tambores mudos aguardam o sinal do ataque. O sol alto não aquece, apenas ilumina. O general cai do cavalo e acorda assustado. Debate-se entre os lençóis. Um filete de suor frio nas costas. Não está só. Ouve a respiração do corpo que dorme ao lado. Os passos das sentinelas no pátio do quartel o devolvem à realidade. Os números esverdeados do relógio marcam quatro horas. Falta uma hora para começar o dia. A cabeça está confusa. Há cães ladrando distantes, fora dos muros. A cabeça quase explode e lhe relembra várias garrafas de vinho. Na névoa das recordações um rosto quer se mostrar. Não tem coragem para encará-lo. Sente-se nu. Lutou mil batalhas, mas sente que perderá essa. Falta-lhe coragem para encarar o outro lado da cama. Desfilam em sua cabeça batalhões de soldados rasos. Seus filhos, suas crianças. Quer levantar e acender a luz. O corpo não obedece. O coração dispara descompassado. A mão tateia, procura. Quando toca na pele macia o coração tambor dá a última batida. Fim da batalha. Mergulha nas trevas iluminadas. Um soldado acorda assustado. Veste a farda e sai cabisbaixo do dormitório...

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