quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

REVEILLON (FL.SCHROEDER 2ªQUINZ.DEZ/09)

Enquanto para algumas pessoas o ano demorou, muitos afirmam que não o viram passar. O tempo escapa por entre os dedos e mais uma vez estamos nos preparando para o “reveillon”, para o despertar de mais um ano. Comportamo-nos como se fosse possível apagar todas aquelas lembranças desagradáveis do ano que se encerra e nos armamos com as centenas de pequenas superstições que herdamos das tradições. Ávidos pesquisamos quantos grãos de lentilha são necessários para que no próximo ano nossa mesa seja farta. Enchemos nossas carteiras com sementes de romã e também é possível guardar de 3 a 7 bagos de uva na bolsa, tudo para que não nos falte dinheiro. A carne de porco deve ser o prato principal da ceia, servida à meia-noite. Como o porco fuça para a frente, garante armários cheios o ano inteiro. Evite aves, pois ciscam para trás. Afogar o ganso então, nem pensar.
A dona de casa deverá limpar a casa, varrendo-a de trás para frente, deixar o lixo fora segundo alguns; outros, mandam jogar no mar (poluindo a santa natureza). As vassouras devem ser queimadas e as cinzas enterradas. Nada quebrado deve ser deixado na casa (jarros de planta, garrafas, copos, pratos e espelhos). Lavar os batentes da casa com sal grosso e água, ou água do mar. Borrifar a casa com água-benta nos quatro cantos. O bom mesmo é pintar toda a casa, colocar lâmpadas novas (não deixar lâmpadas queimadas). Verificar se os sapatos estão desemborcados e se as roupas não estão pelo avesso. E as flores da casa devem ser amarelas para chamar ouro. Tudo isso para atrair a boa sorte, os bons fluidos no Ano Novo que vai chegar.
Superstições e brincadeiras a parte, creio que muitos dos meus leitores entendem que o ano que começa nos trará tão somente aquilo que semearmos, ou melhor aquilo que construirmos com nosso trabalho, nosso estudo, mas grande parte da nossa humanidade ainda espera por soluções mágicas. A mente humana é uma máquina lógica imperfeita e baseia suas conclusões sem base científica, sem conhecimento das reais implicações do que se denomina causa e efeito. Renato Sabbatini, da Unicamp, escreveu que uma das armadilhas mais comuns em que a mente humana cai, é chamada de efeito "propter hoc". Esse nome vem de uma frase em latim: "Post hoc ergo propter hoc", e que significa "se algo acontece depois disso, então é devido a isso". É como se fosse uma relação causa-efeito que parece existir devido à proximidade temporal entre dois eventos, mas que, na realidade, não têm conexão entre si. Um exemplo em medicina é dado por uma frase aparentemente brincalhona, mas que tem implicações bastante sérias: "Se uma gripe não for tratada, ela dura uma semana, se for tratada, dura apenas sete dias".
Eu, pessoalmente, ando meio descrente. Cansei das frases feitas, dos cartões que se repetem, das cidras e dos espumantes que só me deixam com dor de cabeça e dos foguetes que atrapalham o silêncio que procuro. Nego-me, portanto, a comer lentilhas, romãs e bagos de uva. Dos porcos quero distância e as aves deixarei que voem e procurem outros verões. Talvez coma um pedaço de melancia, vestindo uma cueca velha e bem colorida e ficarei cuspindo as sementes sobre as cabeças dos bêbados da calçada. Não desejarei feliz ano novo, pois sei muito bem que o que importará no próximo ano não são meus desejos, mas sim o que cada um fará com seus próprios desejos. Vou encher meus bolsos com muitas letras, para que eu possa continuar escrevendo minhas loucas idéias. Até o ano que vem...

2 comentários:

Unknown disse...

Isso ai meu amigo, concordo com você.
O 2010 para ser bem sucedido dependem de cada um de nós.

Unknown disse...

Gostei Gil! De fato, é isso mesmo, o êxito depende de cada um de nós! Mas ainda assim, quero te desejar um ano de 2010 cheio de coisas boas: muita inspiração, poesia e arte!Abraços!