quarta-feira, 7 de maio de 2008

PÁGINA EM BRANCO

Phillip Glass enche meus ouvidos com suas melodias. À minha direita uma janela aberta para uma noite sem estrelas. No chão, o ventilador gira as pás e joga um pouco de vento agitando os cabelos que restam. Das estantes os livros observam o clarão do monitor que, lentamente, linha após linha, é preenchido por palavras. Escrever é um ato solitário. A vida é uma jornada solitária. Mesmo convivendo com seis bilhões de humanos arrastamo-nos como moluscos, sem conseguir abandonar a segurança da casa que carregamos e que pesa cada vez mais à medida que a preenchemos com nossos falsos conceitos do que deve ser a vida. Arrastamos séculos de idéias prontas e preconceitos. Alguns de nós lemos centenas ou até milhares de livros, participamos de seminários, de grandes debates de idéias, elaboramos teorias, imaginamos soluções para tudo, mas eis que um dia, ou quem sabe uma noite, sentados em algum canto, abrimos as mãos e as vemos vazias, tudo eram apenas cinzas da fogueira que nos consome e, agora, são espalhadas pela ventania do tempo que tudo arrasta consigo.

Enquanto digito meus questionamentos vejo que dois milhões de visitantes foram atraídos ao Festival da Neve de Sapporo, no Japão. Em Bagdá Angelina Jolie pede ajuda para dois milhões de refugiados. Chaves ameaça parar de enviar petróleo aos Estados Unidos. A China festejou o ano novo e eu já me sinto novamente vivendo o velho ano de sempre. Verão, outono, inverno. Haverá primavera? Certamente. Os ciclos se repetem. A história se repete, mesmo que repaginada, vestida com o sonho do momento.

Nós passamos. Esquecemos. Aprendemos tão pouco.

Passamos e deixamos uma grande página em branco...

Um comentário:

Adri.n disse...

Oi!

Estou achando uma experiência fascinante ler textos que foram lidos no curso. Apesar de poder ler em meu ritmo não é tão completo quanto quando os ouvi. Fica faltando a voz do autor...
é intrigante o quanto a voz do autor faz parte do texto....

Adri.n