11 DE SETEMBRO (FL.SCHROEDER 21/09/09)
Gil Salomon
Dois mil e um. No ar o cheiro dos fogos comemorativos do início de um novo milênio. De repente silenciamos, o impossível estava sendo transmitido para o mundo no momento em que acontecia. Depois de assistirmos a tantos filmes descrevendo futuras catástrofes, víamos nas imagens algo de surreal, fruto talvez de efeitos especiais tão comuns no cinema. A verdade, porém, foi se instalando em nossas mentes incrédulas e, pouco a pouco, foi nos colocando com os pés no frio chão da realidade humana, que não mudara apenas porque nossos calendários assumiram um novo número. O império sentiu-se frágil frente ao desconhecido. As torres gêmeas, símbolo de uma América se impondo ao mundo, viraram pó, e junto com elas milhares de vidas humanas. Assistimos, desde então, uma caça desesperada ao que chamamos de terrorismo internacional. Em nome da chamada “democracia” norte-americana justifica-se as piores barbáries pelo mundo. Invadiu-se o Afeganistão numa suposta busca ao líder da Al-qaeda, Osama Bin Laden, e sensibilizou-se o resto do mundo exibindo as burcas das muçulmanas, justificando, dessa forma nossa suposta superioridade como defensores da liberdade individual, mas poucos se deram ao trabalho de lhes perguntar se queriam mudar seu modo de vida. Em seguida houve a invasão do Iraque, numa pretensa busca de armas químicas, jamais encontradas e tudo o que conseguiram foi a deposição e execução de um líder tirano, não mais cruel que aqueles que o depuseram. Qualquer um, que desenvolva um mínimo de raciocínio lógico, percebe que o grande negócio não envolve os povos, supostamente beneficiados pelos detentores do poder do império, mas sim, apenas e tão somente, a manutenção desse poder e o domínio dos que detém a maior riqueza energética, o petróleo.
É interessante observar como ambos os lados do conflito, império americano e povos muçulmanos, são defensores de vontades divinas. Do nosso lado luta o Deus cristão e do lado deles, lutando contra os infiéis, está Alá. Nós, pobres mortais, somos apenas massa de manobra, ora como soldados, ora como homens-bomba, ora como meros expectadores que não entendem tanta insanidade.
Há, porém, outros “onze-de-setembros” que não deveríamos esquecer. Foi no dia 11 de setembro de 1973 que as elites chilenas, apoiadas no exército e pela CIA, agência de inteligência do governo norte-americano, deram um golpe e derrubaram o presidente Salvador Allende no Chile. Allende foi o primeiro presidente socialista latino-americano eleito pelo voto popular. Até hoje não há consenso sobre se o mesmo se suicidou ou foi assassinado no palácio La Moneda. A verdade é que foi encontrado morto. O general Augusto Pinochet, após o golpe, manteve-se no poder por 17 anos e é responsabilizado por milhares de mortos e desaparecidos. Não podemos esquecer que foi apoiado pela igreja católica e, principalmente, pelo medo da classe média em perder privilégios conquistados em séculos de exploração.
Pablo Neruda, poeta, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura do ano de 1971, faleceu dias depois, em 23 de setembro de 1973, provavelmente de tristeza por ver seus sonhos ruírem com a morte do amigo Allende, a quem ajudou a ganhar as eleições.
Alguém talvez pergunte a razão de escrever sobre os “onze-de-setembros” e me adianto justificando que nossa memória histórica é curtíssima. Esquecemos rapidamente todos os horrores das guerras e atrocidades recentes e, assim sendo, não percebemos que talvez estejamos construindo um futuro ainda mais sangrento e negro.
Gil Salomon
Dois mil e um. No ar o cheiro dos fogos comemorativos do início de um novo milênio. De repente silenciamos, o impossível estava sendo transmitido para o mundo no momento em que acontecia. Depois de assistirmos a tantos filmes descrevendo futuras catástrofes, víamos nas imagens algo de surreal, fruto talvez de efeitos especiais tão comuns no cinema. A verdade, porém, foi se instalando em nossas mentes incrédulas e, pouco a pouco, foi nos colocando com os pés no frio chão da realidade humana, que não mudara apenas porque nossos calendários assumiram um novo número. O império sentiu-se frágil frente ao desconhecido. As torres gêmeas, símbolo de uma América se impondo ao mundo, viraram pó, e junto com elas milhares de vidas humanas. Assistimos, desde então, uma caça desesperada ao que chamamos de terrorismo internacional. Em nome da chamada “democracia” norte-americana justifica-se as piores barbáries pelo mundo. Invadiu-se o Afeganistão numa suposta busca ao líder da Al-qaeda, Osama Bin Laden, e sensibilizou-se o resto do mundo exibindo as burcas das muçulmanas, justificando, dessa forma nossa suposta superioridade como defensores da liberdade individual, mas poucos se deram ao trabalho de lhes perguntar se queriam mudar seu modo de vida. Em seguida houve a invasão do Iraque, numa pretensa busca de armas químicas, jamais encontradas e tudo o que conseguiram foi a deposição e execução de um líder tirano, não mais cruel que aqueles que o depuseram. Qualquer um, que desenvolva um mínimo de raciocínio lógico, percebe que o grande negócio não envolve os povos, supostamente beneficiados pelos detentores do poder do império, mas sim, apenas e tão somente, a manutenção desse poder e o domínio dos que detém a maior riqueza energética, o petróleo.
É interessante observar como ambos os lados do conflito, império americano e povos muçulmanos, são defensores de vontades divinas. Do nosso lado luta o Deus cristão e do lado deles, lutando contra os infiéis, está Alá. Nós, pobres mortais, somos apenas massa de manobra, ora como soldados, ora como homens-bomba, ora como meros expectadores que não entendem tanta insanidade.
Há, porém, outros “onze-de-setembros” que não deveríamos esquecer. Foi no dia 11 de setembro de 1973 que as elites chilenas, apoiadas no exército e pela CIA, agência de inteligência do governo norte-americano, deram um golpe e derrubaram o presidente Salvador Allende no Chile. Allende foi o primeiro presidente socialista latino-americano eleito pelo voto popular. Até hoje não há consenso sobre se o mesmo se suicidou ou foi assassinado no palácio La Moneda. A verdade é que foi encontrado morto. O general Augusto Pinochet, após o golpe, manteve-se no poder por 17 anos e é responsabilizado por milhares de mortos e desaparecidos. Não podemos esquecer que foi apoiado pela igreja católica e, principalmente, pelo medo da classe média em perder privilégios conquistados em séculos de exploração.
Pablo Neruda, poeta, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura do ano de 1971, faleceu dias depois, em 23 de setembro de 1973, provavelmente de tristeza por ver seus sonhos ruírem com a morte do amigo Allende, a quem ajudou a ganhar as eleições.
Alguém talvez pergunte a razão de escrever sobre os “onze-de-setembros” e me adianto justificando que nossa memória histórica é curtíssima. Esquecemos rapidamente todos os horrores das guerras e atrocidades recentes e, assim sendo, não percebemos que talvez estejamos construindo um futuro ainda mais sangrento e negro.
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