INSANIDADE (FL.SCHROEDER 05/08/09)
Gil Salomon
Indigna-me ouvir o discurso insano de quem diz falar em nome de um deus e esquece seu frágil lado humano, parido da mesma terra, vivendo no mesmo plano, equilibrado sobre a frágil linha que o diferencia das demais criaturas, que inocentes e puras vivem o divino instinto, perpetuando a vida que, do caos gerada, embeleza esse pequeno planeta azul.
A insanidade das muitas teorias, dos tratados políticos aos livros sagrados, gerou esse momento apocalíptico e esse voraz consumismo, que nos faz gafanhotos, canibais de nós mesmos. Comparando o que fazemos com nossas crianças, com nossas mulheres, com nossos irmãos, nossas mais tenras esperanças mortas ano após anos, concluímos que Calígula, em toda a sua loucura, foi o maior dos puritanos.
Os dois parágrafos acima foram escritos como poema, num momento de reflexão sobre nossa falta de percepção da frágil realidade que nos acolhe. Pela janela tenho a visão de uma montanha, rasgada, fatiada por tratores, sendo transformada em algum projeto imobiliário. Tratamos a terra como se fossemos proprietários e não meros inquilinos. Esquecemos que somos apenas um pequeno elemento que evoluiu, para uma forma diferente de percepção. Julgamo-nos superiores às demais formas de vida. Assenhoreamo-nos de tudo e procuramos mil formas de nos justificarmos perante nossas consciências.
Diariamente somos informados das tragédias naturais, a maioria causada por nossas impensadas ações, mas ao invés de agirmos preferimos encará-las como se nada pudéssemos fazer, tratamos tudo como fatalidades. É mais fácil transferirmos a responsabilidade a algum fator oculto, podemos chamá-lo de Deus, destino, ou qualquer outra denominação. Tudo é válido desde que não tenhamos que assumir as responsabilidades. Ouço, ao longe, sinos chamando as pessoas para orarem. Elas irão, preocupadas em garantir a eternidade. Perceberão que a eternidade é aqui? Ouvirão a suave música que envolve o silêncio do tempo, sempre agora. Provavelmente não...
A terra sangra, a humanidade sangra, mas não percebemos. Não distinguimos mais nosso próprio sangue daquele que derramamos à medida que, vorazmente, nos apropriamos de tudo. Construímos a história sobre nossos próprios escombros. Ferimos a natureza sem perceber que somos parte dela e não algo distinto ou superior. Silenciamos ante os estertores da vida. Escrevemos bibliotecas inteiras de livros justificando cada uma das nossas insanidades políticas, econômicas ou religiosas, porém falta-nos a coragem para escrever a única história que nos salvará: aquela que nos leve a praticar atos que respeitem a interdependência do universo. Somos uma ínfima parte do todo, mas foi nos dada a capacidade da percepção do belo. Usemos pois essa sensibilidade para deixar florescer nossa natural fraternidade. O inferno que construímos pode ser o paraíso dos nossos descendentes se mudarmos nosso modo de vida. Não será fácil, pois teremos que derrubar paradigmas profundamente enraizados em nossa cultura consumista. Sabemos que não há outro caminho além do próprio extermínio da humanidade se não tomarmos medidas urgentes, pois quanto mais adiarmos essas mudanças mais sofrerá, ou seja, pagaremos um alto preço pela nossa atual indiferença. Não quero ser nenhum tipo de profeta alarmista, apenas sugiro que abramos os olhos para o que nos cerca e reflitamos sobre o modo como tratamos nossos semelhantes.
Gil Salomon
Indigna-me ouvir o discurso insano de quem diz falar em nome de um deus e esquece seu frágil lado humano, parido da mesma terra, vivendo no mesmo plano, equilibrado sobre a frágil linha que o diferencia das demais criaturas, que inocentes e puras vivem o divino instinto, perpetuando a vida que, do caos gerada, embeleza esse pequeno planeta azul.
A insanidade das muitas teorias, dos tratados políticos aos livros sagrados, gerou esse momento apocalíptico e esse voraz consumismo, que nos faz gafanhotos, canibais de nós mesmos. Comparando o que fazemos com nossas crianças, com nossas mulheres, com nossos irmãos, nossas mais tenras esperanças mortas ano após anos, concluímos que Calígula, em toda a sua loucura, foi o maior dos puritanos.
Os dois parágrafos acima foram escritos como poema, num momento de reflexão sobre nossa falta de percepção da frágil realidade que nos acolhe. Pela janela tenho a visão de uma montanha, rasgada, fatiada por tratores, sendo transformada em algum projeto imobiliário. Tratamos a terra como se fossemos proprietários e não meros inquilinos. Esquecemos que somos apenas um pequeno elemento que evoluiu, para uma forma diferente de percepção. Julgamo-nos superiores às demais formas de vida. Assenhoreamo-nos de tudo e procuramos mil formas de nos justificarmos perante nossas consciências.
Diariamente somos informados das tragédias naturais, a maioria causada por nossas impensadas ações, mas ao invés de agirmos preferimos encará-las como se nada pudéssemos fazer, tratamos tudo como fatalidades. É mais fácil transferirmos a responsabilidade a algum fator oculto, podemos chamá-lo de Deus, destino, ou qualquer outra denominação. Tudo é válido desde que não tenhamos que assumir as responsabilidades. Ouço, ao longe, sinos chamando as pessoas para orarem. Elas irão, preocupadas em garantir a eternidade. Perceberão que a eternidade é aqui? Ouvirão a suave música que envolve o silêncio do tempo, sempre agora. Provavelmente não...
A terra sangra, a humanidade sangra, mas não percebemos. Não distinguimos mais nosso próprio sangue daquele que derramamos à medida que, vorazmente, nos apropriamos de tudo. Construímos a história sobre nossos próprios escombros. Ferimos a natureza sem perceber que somos parte dela e não algo distinto ou superior. Silenciamos ante os estertores da vida. Escrevemos bibliotecas inteiras de livros justificando cada uma das nossas insanidades políticas, econômicas ou religiosas, porém falta-nos a coragem para escrever a única história que nos salvará: aquela que nos leve a praticar atos que respeitem a interdependência do universo. Somos uma ínfima parte do todo, mas foi nos dada a capacidade da percepção do belo. Usemos pois essa sensibilidade para deixar florescer nossa natural fraternidade. O inferno que construímos pode ser o paraíso dos nossos descendentes se mudarmos nosso modo de vida. Não será fácil, pois teremos que derrubar paradigmas profundamente enraizados em nossa cultura consumista. Sabemos que não há outro caminho além do próprio extermínio da humanidade se não tomarmos medidas urgentes, pois quanto mais adiarmos essas mudanças mais sofrerá, ou seja, pagaremos um alto preço pela nossa atual indiferença. Não quero ser nenhum tipo de profeta alarmista, apenas sugiro que abramos os olhos para o que nos cerca e reflitamos sobre o modo como tratamos nossos semelhantes.
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