23 HORAS (FL.SCHROEDER 01/07/09)
Gil Salomon
Minto. O rodapé do meu monitor mostra que já avancei onze minutos naquilo que, ainda há pouco, chamava de amanhã. Pois então voltemos no tempo. As vinte e três horas eu sai do recanto onde ensaiamos, carinhosamente chamado de estúdio, com a cabeça cheia de melodias e idéias. Há tanto por fazer e aquilo que chamamos de tempo nos escapa e, quando nos apercebemos, já é tão tarde que, como já disse alguém, é quase cedo. No caminho para casa ainda passei por Guaramirim, onde deixei um amigo percussionista, o Luan. Voltei depois, solitário, em meu potente um.ponto.zero.flex, meditando, não com meus botões, sobre o silêncio do que não fazemos.
Na minha imaginação vejo quarenta violões silenciosos, esperando por mãos que os façam vibrar, que novamente brotem melodias das cordas enferrujadas onde hoje só se ouve o empoeirado silêncio dos que não percebem o milagre da música. Vejo crianças ávidas por formas de expressão e lhes negamos os recursos da arte, fechamos para elas a mais bela linguagem que o espírito humano já concebeu. A expressão e percepção artística plenamente incorporada ao dia a dia das pessoas transformariam o mundo.
Vivemos um dos mais delicados momentos que a civilização já presenciou. Sabemos da necessidade de mudarmos nossos paradigmas se quisermos sobreviver nesse planeta, mas não tomamos atitudes concretas que nos levem em direção a essas mudanças. Insistimos em repetir o velho, o que não funcionou. Günter Grass, Nobel de Literatura de 1999, no livro A Ratazana, descreve a humanidade caminhando por caminhos repletos de avisos: não siga por aí, pare enquanto é tempo, etc., mas ela segue em frente, sempre esperando um milagre, alguém que surja sobre as nuvens e restabeleça o paraíso perdido, digo, destruído.
Nosso modelo educacional está apenas voltado à formação de “bons cidadãos”, peças úteis ao funcionamento da complexa engrenagem na qual inserimos nossos filhos. Desprezamos a formação humana e afetiva e focamos apenas o lado racional e prático. Para manter o modelo social vigente precisamos de trabalhadores e consumidores pragmáticos, sem muitas frescuras culturais. A política do pão e circo (panem et circenses) ainda vigora. Sempre haverá uma grande produtora cinematográfica lançando algo como um Spider Man XVII ou, quem sabe, uma releitura do clássico (sic) King Kong. Ao invés de colocarmos um livro, um instrumento musical, alguns pincéis ou qualquer outra ferramenta, que estimule as pessoas a pensarem e questionarem, nós preferimos ocupar suas mãos e mentes com novos jogos, novas necessidades e desejos e, assim, os mantemos pacíficos e úteis aos nossos propósitos.
A partir do momento em que tomamos consciência da responsabilidade perante o que nos rodeia é possível começar um trabalho rumo à humanização da formação do ser humano. É um caminho árduo, mas não podemos ser passivos e coniventes com os rumos que estamos tomando. Podemos não fazer uma revolução, mas trabalhar os pequenos gestos. As maiores realizações da humanidade não são mais que a soma de milhares de pequenas e solitárias atitudes. Se não desisto dessa crença na capacidade de revertermos esse caminho suicida que hoje trilhamos, não é por ser brasileiro, mas sim por ter a certeza da plena realização dos nossos sonhos se os tirarmos do plano onírico e os pousarmos no terreno sólido dos nossos dias. Fecho minha reflexão ouvindo uma canção da Mongólia executada pelo Terra Sonora. Não sabe quem é? Pesquise...
Gil Salomon
Minto. O rodapé do meu monitor mostra que já avancei onze minutos naquilo que, ainda há pouco, chamava de amanhã. Pois então voltemos no tempo. As vinte e três horas eu sai do recanto onde ensaiamos, carinhosamente chamado de estúdio, com a cabeça cheia de melodias e idéias. Há tanto por fazer e aquilo que chamamos de tempo nos escapa e, quando nos apercebemos, já é tão tarde que, como já disse alguém, é quase cedo. No caminho para casa ainda passei por Guaramirim, onde deixei um amigo percussionista, o Luan. Voltei depois, solitário, em meu potente um.ponto.zero.flex, meditando, não com meus botões, sobre o silêncio do que não fazemos.
Na minha imaginação vejo quarenta violões silenciosos, esperando por mãos que os façam vibrar, que novamente brotem melodias das cordas enferrujadas onde hoje só se ouve o empoeirado silêncio dos que não percebem o milagre da música. Vejo crianças ávidas por formas de expressão e lhes negamos os recursos da arte, fechamos para elas a mais bela linguagem que o espírito humano já concebeu. A expressão e percepção artística plenamente incorporada ao dia a dia das pessoas transformariam o mundo.
Vivemos um dos mais delicados momentos que a civilização já presenciou. Sabemos da necessidade de mudarmos nossos paradigmas se quisermos sobreviver nesse planeta, mas não tomamos atitudes concretas que nos levem em direção a essas mudanças. Insistimos em repetir o velho, o que não funcionou. Günter Grass, Nobel de Literatura de 1999, no livro A Ratazana, descreve a humanidade caminhando por caminhos repletos de avisos: não siga por aí, pare enquanto é tempo, etc., mas ela segue em frente, sempre esperando um milagre, alguém que surja sobre as nuvens e restabeleça o paraíso perdido, digo, destruído.
Nosso modelo educacional está apenas voltado à formação de “bons cidadãos”, peças úteis ao funcionamento da complexa engrenagem na qual inserimos nossos filhos. Desprezamos a formação humana e afetiva e focamos apenas o lado racional e prático. Para manter o modelo social vigente precisamos de trabalhadores e consumidores pragmáticos, sem muitas frescuras culturais. A política do pão e circo (panem et circenses) ainda vigora. Sempre haverá uma grande produtora cinematográfica lançando algo como um Spider Man XVII ou, quem sabe, uma releitura do clássico (sic) King Kong. Ao invés de colocarmos um livro, um instrumento musical, alguns pincéis ou qualquer outra ferramenta, que estimule as pessoas a pensarem e questionarem, nós preferimos ocupar suas mãos e mentes com novos jogos, novas necessidades e desejos e, assim, os mantemos pacíficos e úteis aos nossos propósitos.
A partir do momento em que tomamos consciência da responsabilidade perante o que nos rodeia é possível começar um trabalho rumo à humanização da formação do ser humano. É um caminho árduo, mas não podemos ser passivos e coniventes com os rumos que estamos tomando. Podemos não fazer uma revolução, mas trabalhar os pequenos gestos. As maiores realizações da humanidade não são mais que a soma de milhares de pequenas e solitárias atitudes. Se não desisto dessa crença na capacidade de revertermos esse caminho suicida que hoje trilhamos, não é por ser brasileiro, mas sim por ter a certeza da plena realização dos nossos sonhos se os tirarmos do plano onírico e os pousarmos no terreno sólido dos nossos dias. Fecho minha reflexão ouvindo uma canção da Mongólia executada pelo Terra Sonora. Não sabe quem é? Pesquise...
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